domingo, 25 de maio de 2025


Sancta Barbora no passado


Divagando eu pelos caminhos da história enquanto dormia, dou por mim a viajar nos anos trinta do séc. XVI até à aldeia de Santa Bárbara de Nexe. 

Lá no topo de uma colina, avisto eu algum casario branco  disperso e ao entrar no Rocio da aldeia, vem ao meu encontro o Ermitão da paróquia e amigo, Joham Roiz, que me guia nesta visita.


Diz-me o meu amigo Joham, que este templo terá sido erigido na segunda metade do século XIV, altura em que muitas igrejas da região foram construídas, no mesmo local onde outrora terá existido uma antiga ermida em honra de "Santa Bárbara", cuja imagem terá sido encontrada por um pastor no Cerro de Nexe, segundo uma lenda. O seu promotor terá sido um tal senhor de nome Cabral, que para aqui veio cumprir sentença e onde arranjou meios de fortuna.

Pegado à igreja e rodeando a mesma, há um terreiro, onde existem algumas casas e se enterram os defuntos. À minha direita, a nascente, tenho um alpendre em alvenaria com três arcos, coberto de telha vã, de chão lajeado e uma estribaria para acomodar uma dezena de equídeos. Daqui temos acesso a duas casas, uma delas sobradada, com telhado de quatro águas, chaminés e uma janela virada para o mar. É nestas casas que habita o capelão da paróquia, Fernão Diz, clérigo de S. Pedro, e se acolhem os romeiros que aqui chegam.

Continuando, outras três casas térreas se seguem e, já nas traseiras da igreja, um novo alpendre de alvenaria com seis arcos em tijoleira e cobertura de telha vã, que se estende ao longo de toda a sua largura, construído nos anos vinte e onde vive o ermitão Joham.

À minha esquerda, a poente, caminhando em direção à porta principal da igreja, encontro na frente desta, um outro alpendre, bastante mais antigo, de pedra e cal, chão lajeado e também coberto de telha vã, que se estende ao longo de toda a fachada do templo. Tem o mesmo uma varanda e bancos para descanso de quem chega, e o acesso ao interior é feito por seis degraus de pedra.

Na frente deste alpendre está a igreja, com a sua porta principal, ogival, e sobre ela uma janela envidraçada. Na empena lateral da fachada há um campanário.

Entro no templo e vejo um interior amplo com três naves divididas por colunas de capitéis octogonais em pedra trabalhada, bem lajeado e tetos forrados em madeira de castanho.

À minha direita vejo uma pia da água benta em pedra e um confessionário., e à esquerda a pia batismal assente numa coluna de pedra sobre um patamar. Não vejo coro nem púlpito.

Caminhando em frente, percorro um enorme espaço em direção à Capela-mor. A meio caminho, na parede lateral sul, uma porta ogival que dá para o exterior e na parede oposta, parte norte, um altar evocando São Sebastião. Antes de passar o cruzeiro que tenho na minha frente e que dá acesso à Capela-mor, em arco meio ogival, lavrado de ramos e troços, tenho à minha direita, do lado da epístola, um altar com uma imagem de Nossa Senhora e um crucifixo e do outro lado, o do evangelho, outro altar igual com uma velha imagem de Nossa Senhora.

Subo um degrau de pedra, passo por umas grades de ferro trabalhado e entro na   Capela-mor, de chão também lajeado e de abóbada artesoada de cinco florões ligados entre si, em forma de cordas torcidas. Diz-me Joham que esta abóbada foi construída recentemente.

Em frente tenho um altar de alvenaria, sobre um patamar com seis degraus, onde está um retábulo de quatro painéis pintados e um nicho adornado ao centro, onde se encontra a padroeira "Santa Bárbara".

Desta sai uma porta para sul, que dá acesso à sacristia. Esta é forrada de canas, coberta de telha vã e tem uma pequena janela para o exterior sul. É aqui que se encontra o arquivo da paróquia com os registos de batismos, casamentos e óbitos.

Nesta paróquia de Santa Bárbara, dividida por dois termos, Faro e Loulé e que serve uma população de cerca de 450 habitantes dispersos pela mesma, encontrei como mordomos da fábrica, o Frei Lopo Rodrigues e Vicente Gonçalves.

Com a viagem terminada ao som das primeiras badaladas do sino da torre, acordo, e estou de volta à realidade 500 anos depois, encontrando uma pequena aldeia branca, rasgada por ruas pintadas de negro e mais gente, onde a sua antiga igreja com a sua alta torre, ainda continua a ser ex-líbris da mesma. (Fonte: Visitas da Ordem de Santiago)

 


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